Veja como ler ajuda você na hora de escrever uma redação para o vestibular
Por Leticia Reina – Gestora pedagógica da Guten Educação e Tecnologia
No início do ano, a Fuvest, instituição responsável por um dos vestibulares mais concorridos do Brasil, solicitou aos candidatos que foram aprovados para a segunda fase que escrevessem uma dissertação sobre o tema “Devem existir limites para a arte?”. Utilizando como base trechos de cinco textos distintos que abordavam vários aspectos do assunto, a proposta exigia a construção de uma opinião.
A questão, que assombra gerações de vestibulandos, é: como construir um texto opinativo da melhor forma possível?
Para a construção de um texto como esse, é preciso ter uma tese a ser defendida. Além disso, é necessário validar essa ideia com base na construção de argumentos. Se a tese e os argumentos não forem consistentes, o desempenho na redação tende a ser baixo.
Para garantir essa consistência é preciso ter conhecimento do assunto a ser abordado. Além disso, quanto mais extenso for o repertório do estudante, maiores as chances de ele já ter refletido sobre o tema e já ter um posicionamento. Para isso, é fundamental que ele leia sobre os mais variados assuntos. Deve-se levar em consideração, também, que as provas de redação de vestibular no Brasil, de um modo geral, optam por temas atuais e que geraram repercussão na sociedade em um período recente. Por exemplo, a redação da Unicamp deste ano discutiu a pós-verdade; já a Universidade Estadual do Ceará debateu a modernidade líquida em 2016.
Por isso, no que diz respeito ao repertório para o vestibular, ler conteúdo jornalístico é fundamental.
Além dos argumentos e da tese, é necessário saber construir uma redação nos moldes exigidos por determinado gênero textual. No exemplo da proposta da Fuvest, trata-se de um texto de opinião, mas poderia ser um outro gênero, como uma fábula, uma carta etc. A melhor forma de saber como fazer essa construção da maneira correta é estudando exemplos. Por isso, além da leitura de textos jornalísticos, leve em conta outros gêneros. Isso possibilita que sejam percebidas diferentes estruturas, estilos, esferas de circulação.
Quanto mais diversificado o leque de gêneros lidos, mais proficiente na escrita fica o estudante. Isso acontece porque mais recursos linguísticos podem ser acionados nas produções. Isso abre caminhos para a escrita reflexiva, para a adequação da linguagem ao interlocutor, ao destinatário e ao local de publicação, por exemplo. É preciso saber, de acordo com a proposta, qual é o tipo de linguagem exigida. Além disso, pensar sobre qual é o público e qual é o objetivo – uma carta pode não exigir uma linguagem formal, diferente de um texto científico, assim como uma produção publicitária tem um objetivo diferente de uma poesia, e assim por diante.
Cada redação apresenta uma demanda e o segredo para ter um bom desempenho é ter um bom repertório. Portanto, é preciso praticar a escrita e realizar um processo de revisão, ou seja, uma leitura crítica do próprio texto. Não se esqueça de que ler e escrever são ações indissociáveis.
Leitura e escrita: não é só para o vestibular
Vale ressaltar que, apesar da necessidade de elaborar uma boa redação ser ainda mais evidente quando um estudante busca ingressar em uma faculdade, a necessidade de formar bons redatores, e bons leitores, não é uma exclusividade dessa fase. Um estudo feito com trabalhadores brasileiros revelou que quatro em cada dez profissionais de chefia não dominam a escrita e a leitura. A mesma pesquisa diz que menos de um quarto dos brasileiros sabe ler e compreender um texto científico (como uma bula de remédio) e uma parcela menor ainda é capaz de ir até uma banca de jornal, selecionar um artigo e distinguir fato de opinião.
A defasagem nesse quesito começa na escola.
Dados de uma pesquisa da Prova Brasil apontaram, em 2015, que 70% dos alunos do 9º ano do ensino fundamental não passam do nível básico no quesito leitura e interpretação, sendo 18% com nível insuficiente. Em uma escala que varia entre insuficiente, básico, proficiente e avançado, apenas 5% do total se enquadra nesse último nível. A leitura e a escrita são essenciais para a formação do cidadão crítico e ambas são habilidades a serem desenvolvidas com tempo e dedicação.
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Leticia Reina
Mestre em linguística aplicada e estudos da linguagem pela PUC – SP. Ela atua há mais de 25 anos na área de educação em escolas públicas e privadas. Atuou na Escola da Vila, na Santi, Instituto Qualidade no Ensino (IQE), Senac e elaborou material pedagógico para FTD. Na Guten, Leticia é a responsável pelo conteúdo pedagógico e formações de professores para o uso da ferramenta.
Sobre a Guten
A Guten é uma solução digital de apoio às escolas que estimula a leitura crítica nos alunos por meio de uma plataforma interativa que utiliza o mundo como canal de aprendizado. Conheça mais em www.gutennews.com.br
Referências:
https://g1.globo.com/educacao/noticia/fuvest-2018-tema-da-redacao-aborda-polemicas-em-museus-de-arte.ghtml
https://www.huffingtonpost.com/mike-hanski/read-more_b_5192754.html
http://www.fuvest.br/wp-content/uploads/fuv2018.fase_.2.dia_.1.pdf
http://www.qedu.org.br/brasil/proficiencia