Autor: Marcus Garcia de Sene
Mestrando em Linguística e Língua Portuguesa
O trabalho com a escrita enquanto processo contínuo e processual, nem sempre tem seu valor reconhecido nas escolas de todo Brasil. A partir disso, ressalta-se que a importância do ensino da escrita, sobretudo nos últimos anos, tem aumentado significativamente, justificando-se, como aponta as pesquisas, nos baixos níveis de desempenho linguístico dos alunos no que diz respeito as competências que são, diariamente, exigidas pela sociedade letrada.
Os resultados do último ENEM, por exemplo, esclarecem que, mesmo com tanta pesquisa linguística sendo desenvolvida, os alunos, quando se trata do texto escrito, ainda apresentam dificuldades elementares. Nós, educadores, não podemos perder de vista que um dos objetivos postulados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais é que o trabalho com a produção textual deve ter como finalidade formar escritores competentes e, também, produtores de textos coesos e eficazes. (BRASIL, 1997, p.47).
Assim, paralelo a isso, também devemos reconhecer a dificuldade dos professores de português de concentrar sua interferência pedagógica e seu trabalho docente nas aulas de leitura e produção de textos, em especial, nos textos argumentativos. Isso é compreensível, uma vez que a realização de um trabalho dessa natureza exige do próprio professor competência e habilidade própria de um leitor/escritor em constante exercício, que saiba empregar adequadamente os recursos da língua, mas também que seja capaz de assumir posições e defender consistentemente seus pontos de vista sobre os temas. Entretanto, sabe-se que o Brasil não é um país de leitores nem de produtores de texto.
Com isso, Xavier e Garcia (2013, p.1) apontam: “A necessidade de se produzir textos bem escritos, sejam eles narrativos, dissertativos ou argumentativos, está cada vez mais presente na sociedade letrada em que se vive no Brasil”. Nesse sentido, proponho, portanto, a reescrita como intervenção pedagógica, posto que a partir dela o professor pode atuar como um mediador entre texto e o aluno. Através desta intervenção o professor pode fazer apontamento através de um bilhete no final de seu texto em que o aluno poderá refletir sobre seu próprio texto e seus próprios desvios.
Este trabalho permite o amadurecimento do produtor do texto, fazendo com que este reconheça que a reescrita é uma intervenção pedagógica que poderá auxiliá-lo na construção de textos coerentes e coesos. O estudante que reescreve o texto consegue olhar para sua própria escrita como um trabalho que exige esforço.
Esse processo de construção e reconstrução respeita o caráter processual da produção textual, deslocando o foco do ensino de língua materna de um trabalho com a nomenclatura, com as formas da norma culta, para um trabalho que pretende desenvolver a competência discursiva do aluno, apontando-lhe as inadequações de seu texto, para que ele se aproprie das formas e convenções da escrita.
GARCIA, S. M.; XAVIER, M. C. . Desenvolvendo a expressão escrita dos alunos do ensino médio. Encontro de Formação de Professores, Revista, p. 1 – 5, 01 jul. 2013
BRASIL, SEF. Parâmetros curriculares nacionais: Língua Portuguesa: 1º e 2º ciclos. Brasília: SEF, 1997.